segunda-feira, setembro 11, 2006

SALDO POSITIVO



"Os temas cantados em todas as línguas, em cem fórmulas musicais, dizem um mapa comum, determinando a aproximação, o entendimento, o conhecimento intelectual pela sensibilidade da tradição."
Luís da Câmara Cascudo

Alexandro Gurgel

Brincantes do Boi-de-reis de Manoel Marinheiro entre as imagens dos Reis Magos, em Santos Reis, Natal

XII Congresso Brasileiro de Folclore
Avaliação parcial

Terminado o 12º Congresso Brasileiro de Folclore - entre mortos e feridos - o saldo foi altamente positivo, apesar das dificuldades, atropelos e superposição de eventos. O espaço físico foi menor do que o desejado. Não tinha sala para todos os grupos de trabalhos (GT), e houve superposição de grupos e temas discutidos, com prejuízo do debate e aprofundamento dos trabalhos. Só no segundo dia pela manhã, em um único grupo misto, foram apresentados 20 trabalhos com duração de 10m. Muito pouco, para trabalhos tão extensos como o que apresentei sobre “ O Kosmos Camoniano e a Cultura Popular”.

Eram 10 grupos de trabalho, com mais de 100 trabalhos a serem apresentados em três manhãs. Doze mesas redondas, 07 oficinas com os mais diferentes temas, Curso de atualização em Folclore. Sem falar no festival de danças, cortejo com os grupos folclóricos na Redinha, etc, etc. Difícil atender a tudo, ficando com o gostinho de que se está perdendo algo. Muita gente jovem, projetos interessantíssimos e a vontade de trabalhar pela cultura popular do Brasil. Homenagem mais do que justa a Luís da câmara Cascudo. Faltou, na minha opinião, uma homenagem mais consistente ao folclorista Veríssimo de Melo.

Ainda propus uma exposição, em sua homenagem, mas não foi possível concretizar. O evento contou com a participação dos maiores folcloristas e estudiosos da cultura popular brasileira, e alguns estrangeiros. No terceiro dia foi possível dividir melhor os grupos de trabalhos, e deu para apresentar melhor o trabalho. Apresentei o trabalho sobre a Lua na etnografia, mitologia e Música Popular Brasileira. O Trabalho foi muito bem aceito no grupo e os poucos presentes cantaram comigo o cancioneiro da música popular enluarada. Gostei muito do trabalho do Climério de Oliveira Santos, que junto com Tarcísio Soares Resende, fizeram o belo livro sobre o Maracatu, com partituras, cd com 12 músicas e faixas multimídias. Bacana, também, o trabalho do grupo PEDUBREU – Tecnococo, comandado pelo excelente Gláucio Câmara, e apresentado pela simpática e competente Fátima Costa, que também trabalha com as cantadeiras.

O grupo do Gláucio faz uma releitura- vivencia o coco “Boi Tungão” do Chico Antonio, romances de Dona Militana, junto com rabeca e música eletrônica. Muito bom o show apresentado na Casa da Ribeira. Precisa sair urgente o CD. Quanta coisa legal está acontecendo, e não ficamos sabendo. Jovens lendo, fazendo e recitando cordel. Grupos e mais grupos de danças populares. A mesa redonda sobre literatura de cordel no século XXI, foi um dos pontos altos do Congresso. Cordel feito no computador e com roupagem multimídia.

Na mesa, estava presente a professora holandesa Ria Lemaire, que conduz na França estudos sobre a oralidade no mundo da língua portuguesa. A professora Lia trabalha na universidade de Poitiers, na França, onde dirige o Fonds Cantel, uma das mais ricas coleções de cordéis do mundo. São nove mil folhetos de cordel, cartas dos autores, manuscritos, etc. O cordel como objeto de arte é uma peça precária e tosca, e se enriquece com a sua transmissão oral e gestual, disse a professora.

Na ocasião, houve um rico debate sobre o autor do folheto de cordel. Ele pode ser um bacharel? Na opinião do grande MAXADO, sim. Francisco Maxado Nordestino, que tive o prazer de conhecer, completou 40 anos de poesia e 30 de cordel. É de Feira de Santana - Ba, já morou muito tempo no sudeste do Brasil e tem várias formaturas em cursos superiores. Autor de várias centenas de cordéis, inclusive muitos fesceninos. O K. Gay Nawara é autor de muitos folhetos eróticos: Os Viadinhos Amigados, O Tarado da Capa preta que assusta estudantes, etc. Maxado também é autor de vários clássicos do Cordel. Entre eles, O testamento de Judas pela semana santa, O casamento do lobisomem com a Vampira feiticeira e muitos e muitos outros, alguns deles esgotadíssimos.

Foi através do amigo Maxado que tomei conhecimento dos cordéis e livro do poeta José Aras, autor de Sangue de Irmãos. “A história da Guerra de Canudos e Antônio Conselheiro”. Outro grande autor de cordel e xilogravuras, que tive o prazer de conhecer, foi Marcelo Alves Soares, de Olinda - PE. Marcelo é filho do famoso poeta-repórter José Soares, que faz parte de uma família de artistas populares. Comprei muitos cordéis e camisetas com xilogravuras do Marcelo, que também é autor de “Estes Fesceninos”, projeto gráfico e poesia do Marcelo. Acompanha uma bela caixa-envelope, em edição limitada e assinada pelo autor que está indo apresentar o seu trabalho em Portugal.

O Congresso foi enriquecido com a presença das banquinhas vendendo arte popular e folhetos de cordel. Estava presente ABAETÉ, de PE e residente em Natal há mais de 20 anos, com muitos folhetos sobre Lampião e outros temas. Muito simpático o “Boquinha de Mel”, norte-riograndense de nome de batismo Elinaldo Gomes de Medeiros. Um turbilhão de versos de improviso e autor de um cordel sobre a origem da feira do Alecrim e outro sobre Lampião, o Invasor de Mossoró.

Outra mesa redonda que tive o prazer de assistir foi com o paraibano Bráulio do Nascimento, um dos maiores folcloristas do Brasil. Bráulio falou sobre as várias versões do livro da Donzela Teodora. Foi aí que pedi a palavra e lembrei do livro de Walnice Nogueira Galvão, sobre a Donzela-Guerreira. Figura que faz parte do imaginário das mais diferentes culturas: A Mu-lan chinesa, Joana D´Arc, Iansã, Jovita Alves Feitosa, do CE, e muitas outras. Outro grande destaque do Congresso foi sobre a cultura Africana na formação cultural brasileira.

Falou-se muito sobre o culto da Jurema, uma planta alucinógena: mimosa nigra, a jurema preta e acácia jurema, a branca. A professora Maria Theresa Lemos apresentou um brilhante estudo sobre o Meleagro, de Cascudo, e a Música de feitiçaria de Mário de Andrade. O professor Luis Assunção, da UFRN, diz que em Natal existem 270 casas de cultos africanos, a maior parte na Zona Norte. Uma característica dessa pratica de culto é a sua perseguição ao longo dos anos. O Professor José Fernando, de PE, trabalhou muito para o sucesso do evento, e fez uma defesa emocionada desses cultos.

O professor disse que recebeu muita força de uma dessas casas em momentos difíceis, na preparação do Congresso. Outra palestra interessante foi a do português Antônio Tiza, sobre Tradições nordestinas: heranças lusitanas. Estudo sobre os bonecos gigantes que saem durante o ciclo de 12 dias, entre o Natal e Dia de Reis, na região fronteira Portugal-Espanha. Muito interessante a festa dos rapazes, que remonta aos cultos dos celtas no solstício de inverno. Enfim, dizer que o Congresso foi altamente proveitoso e estimulante para os estudiosos e amantes da cultura popular.

É lamentável que muitos não tenham participado, e que tenha havido um Congresso similar e quase paralelo na cidade vizinha de Mossoró-RN. Somos poucos e os recursos são limitados. Em mais de 50 anos, só conseguimos realizar doze congressos. Estão de parabéns todos os que conseguiram trazer esse importante evento nacional para a cidade de Câmara Cascudo, em seus 20 anos de encantamento. Parabéns, em especial, para José Fernando, Severino Borges, Gutenberg Costa e Deífilo Gurgel, bravos baluartes da bandeira do divino filho espírito santo da cultura e religião do povo.

João da Mata Costa – UFRN
damata@ufrnet.br

domingo, setembro 10, 2006

DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO



“Se os Governos forem, um a um, valorizando, sistematizando, divulgando, fixando o seu Folk Lore, estarão criando uma Internacional de Poesia, pacífica, invencível, a mais natural, a mais democrática, a mais profunda de todas as organizações sociais, unindo, através dos idiomas e das religiões, das culturas e das civilizações, do tempo e do espaço, todos os homens, de todas as raças, numa continuidade de beleza, de lirismo, de confiança e de solidarismo humano.”

Luís da Câmara Cascudo

Hugo Macedo
Internacional da Poesia
Do Blog do Cascudo

Na sessão de encerramento da Comissão Executiva do Congresso Luso Brasileiro de Folk Lore em Lisboa, o Sr. Antônio Ferro fez um discurso sugestivo. Discurso conversando e sem pretensão de eloqüência. Não ergueu a voz. A sala era pequena e acolhedora. O Palácio da Foz, em vermelho e branco, é um dos mais lindos da Europa. Casa fidalga do século XVIII, cheia de recordações graciosas, de festas que deixaram saudades, de elegância, de bom gosto, ambiente em que a conversa era uma Arte e o espírito um estado normal da inteligência. O Sr. Antônio Ferro, fixando a importância essencial da defesa do Folk Lore, como fisionomia coletiva em sua expressão natural e poderosa de beleza, lembrou que o povo imprime aos seus objetos um pormenor de graça, de colorido e de emoção incomparável e lógico. A poesia e o canto, o desenho coreográfico e a indumentária, todo material etnográfico, constitui uma força viva, mobilizada automaticamente para a guarda da alma popular na profundeza de sua sinceridade, do seu direito de expressar-se sem obediência e submissão ao Ganon exterior, efêmero e sucessivo, da Moda...

A valorização do Folk Lore pelos Governos é um ato natural. Tão natural como a organização de suas Forças Militares. É um exército invisível e perpétuo, vivendo nas almas, de geração em geração, defendendo o País, idioma, hábito, cultura oral, costume, a técnica secular conquistadora de maravilhas. Se os Governos forem, um a um, valorizando, sistematizando, divulgando, fixando o seu Folk Lore, estarão criando uma Internacional de Poesia, pacífica, invencível, a mais natural, a mais democrática, a mais profunda de todas as organizações sociais, unindo, através dos idiomas e das religiões, das culturas e das civilizações, do tempo e do espaço, todos os homens, de todas as raças, numa continuidade de beleza, de lirismo, de confiança e de solidarismo humano. Os temas cantados em todas as línguas, em cem fórmulas musicais, dizem um mapa comum, determinando a aproximação, o entendimento, o conhecimento intelectual pela sensibilidade da tradição. Será uma Internacional de Poesia em serviço, em defesa e conservação da Paz. Folk Lore é cultura popular, independente, omnimoda, universal e nacional, coletiva, é una, milenar e presente. Valorizá-lo, como o faz o Governo de Portugal, é assumir uma atitude em serviço da Paz pela presença afetuosa da inteligência anônima dos povos.

O Sr. Antônio Ferro fez, sem intenção e sem vaidade, o seu discurso de inauguração do Congresso. E, velho enamorado da Arte Popular Portuguesa, expôs, aos seus companheiros do Folk Lore Brasileiro, o programa inicial de sua doutrina radicular e natural.

Luís da Câmara Cascudo
Diário de Natal, 27 de dezembro de 1947
http://www.memoriaviva.com.br/cascudo/index2.htm

quinta-feira, setembro 07, 2006

TEMAS ABORDADOS



"Alto está
e alto mora:
todos o vêem,
ninguém o adora"
Adivinha - Sino

Hugo Macedo
Alguns temas abordados no Congresso

P-01- SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA. Uma análise acerca do papel da escola na orientação sexual dos jovens (na opinião de professores, pais e adolescentes)
AUTOR: Leila Silmara de Morais Nogueira
ORIENTADOR: Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira
RESUMO:
O estudo da sexualidade está ligado aos valores de cada sociedade. Como essas instruções não são saciadas no âmbito familiar, emerge daí a necessidade de uma orientação sexual, para que o indivíduo possa compreender e conviver melhor com a diversidade em meio à descoberta da sexualidade. A escola aliada à família exerce uma função essencial na educação sexual dos adolescentes, tendo em vista, o seu papel de construção de conhecimento na sociedade. Neste sentido, o objetivo do trabalho proposto tem o intuito de analisar a opinião de pais, professores e adolescentes com relação ao papel desenvolvido pela escola na orientação sexual dos adolescentes. A coleta dos dados foi realizada através de um estudo descritivo e exploratório na escola Estadual Governador Dix-Sept Rosado – Mossoró / RN. O instrumento utilizado na investigação foi o grupo focal que conforme Morgan (1997) constitui-se numa técnica qualitativa que visa o controle da discussão de um grupo de pessoas inspirada em entrevistas não diretivas.

P-02 - Revista Acadêmica Bula
EXPOSITORES: Jefferson Melo de Araújo, Maísy de Medeiros Freitas e
Patricia Caetano de Oliveira
AUTORES: Maísy de Medeiros Freitas, Patrícia Caetano de Oliveira, Jefferson Melo, Mário César Gomes (Educação Artística/ UFRN)
RESUMO:
A Revista Acadêmica BULA, se propõe a ser um veículo de comunicação que possibilite a publicação de textos acadêmicos, divulgação de eventos culturais, críticas artísticas e outros gêneros literários, como também favorecer o diálogo entre os alunos do Departamento de Artes e demais departamentos ligado ao Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA.

P-03 - Publicidade e Propaganda: qual é a diferença?
AUTORA: Dalvacir Xavier de Oliveira Andrade (Mestre em Ciências Sociais/ UFRN, Professora de Publicidade e Propaganda/ UnP. e FANEC)
RESUMO:
Os vocábulos Publicidade e Propaganda são tidos, no Brasil, como sinônimos. Contudo, existem diferenças, tanto históricas, quanto semânticas entre eles. O equívoco tem suas origens no próprio surgimento da atividade publicitária no país. Com as primeiras agências brasileiras, inspiradas nas agências americanas, chegou-se a indevida tradução de publicity, propaganda e advertise, gerando a incorreta utilização dos termos como sendo sinônimos.

P-04 - Projeto Primeiros Passos em Pau-Brasil e Rocinha.
AUTOR E EXPOSITOR: Bruno de Oliveira Lima (Aluno da pós-graduação em Antropologia Social/ UFRN)
RESUMO:
Esse trabalho é uma análise, identificação e avaliação, das práticas e competências familiares em áreas rurais nas comunidades tradicionais de Rocinha e Pau-Brasil, localizadas na microrregião de Macaíba no Rio Grande do Norte. O principal objetivo é elaborar um diagnostico situacional destas comunidades para futuras ações intersetoriais das competências familiares, buscando assim, o fortalecimento da relação mãe e filho no seu ambiente.

P-05- PEDAGOGIA DA TERRA: Relato de uma experiência na UERN
AUTORA: Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira
RESUMO:
O Programa Pedagogia da Terra, consiste numa parceria entre a UERN e o INCRA - Instituto Nacional da Reforma Agrária, com a finalidade de atender dentro do Plano Nacional de Reforma Agrária a oportunidade da educação de nível superior para àqueles que vivem nos assentamentos humanos rurais. O objetivo do trabalho é suscitar a relevância do programa através do curso de pedagogia, para a transformação social no campo e analisar a priori, a experiência de uma disciplina (pesquisa educacional), tendo em vista uma primeira aproximação dos rurícolas com a Universidade. A experiência, mostrou que a história de vida e o conhecimento empírico destes constituem em sólidas ferramentas no âmbito acadêmico. Já que por essa via, são possíveis interrelações entre o conhecimento teórico com a vivência nos assentamentos, o que proporciona uma interlocução capaz de nortear uma construção no processo educacional vigente.

P-06 - O imaginário e o lendário na construção da identidade de um povo.
AUTORAS: Maria Aparecida de Almeida Rego
Paula Virginia da Silva
RESUMO:
O mistério, o medo, o incerto, a humanização dos animais e dos elementos da natureza são temáticas recorrentes no imaginário da tradição popular. Uma tradição que não se perde com o tempo. São imagens construídas que, ora consideradas falsas pela ciência, o que prevalece é a “lei da palavra” repassada, capaz de garantir veracidade às representações que estão diretamente ligadas à origem de lugares e/ou justificativas de fatos. Assim, ao coletarmos narrativas sobre Os sete buracos ou a gruta do Bode, um subterrâneo localizado no município de Canguaretama, município do Rio Grande do Norte, identificamos uma coletânea de histórias reais e/ou lendárias que habitam o imaginário de um povoado, como forma de registro de um passado que contem elementos do maravilhoso, do fantástico e do lendário como tentativa de explicação para fatos que influenciaram e influenciam na construção de suas identidades.

P-07 - Aspectos sócio-ambientais da produção da cal em Governador Dix Sept- Rosado/RN
AUTORA: Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira (especialista em direito ambiental, mestre em desenvolvimento e meio ambiente PRODEMA/ UERN)
ORIENTADORA: Françoise Dominique Valéry (Drª Planejamento Urbano e Regional,Professora da UFRN)
RESUMO:
O município de Governador Dix Sept Rosado está localizado no Estado do Rio Grande do Norte, região Nordeste do Brasil, na faixa semi-árida, centrado na mesorregião Oeste Potiguar. O mesmo possui sua atividade econômica baseada na calcinação de calcário. Constituindo-se ainda numa atividade bastante rudimentar, utilizando os produtores da cal virgem o uso da lenha como fonte energética para os fornos. Desse modo, existem duas cadeias produtivas envolvidas com este trabalho: uma que está ligada à atividade extrativa do calcário (matéria-prima dos fornos) e outra ligada ao corte da lenha.. Diante das dificuldades a priori detectadas, a pesquisa utilizou uma metodologia calcada na observação sistemática, entrevistas abertas, conversas informais, registros fotográficos, documentos além da imparcialidade junto ao depoimento dos lenhadores,sendo realizados um levantamento bibliográfico e um mapeamento da área estudada, na zona rural.

P-08- As variantes não-canônicas menas e meia: um estudo sobre variação sociolingüística
AUTORA: Maiza de Albuquerque Trigo (Mestranda – PPGEL/ UFRN)
RESUMO:
Esta pesquisa se propõe a discutir a relevância de um trabalho, junto aos alunos tanto do Ensino Fundamental quanto do Ensino Médio, de conscientização sobre a co-existência de variantes na língua materna e de distinção entre as variantes padrão e não-padrão dessa língua, considerando a existência das variantes não-canônicas MENAS e MEIA. Nossa pesquisa está inserida no domínio teórico da Sociolingüística Variacionista, inspirada por Labov, em que consideramos que variáveis sociais, como sexo, idade e escolaridade, e variáveis lingüísticas, como presença da variação de gênero e decategorização, influenciam a escolha de uma das variantes. Através de entrevistas com doze informantes – seis mulheres e seis homens, de escolaridades diferentes e faixa etária similar, e com o objetivo de investigar a ocorrência de variação nos advérbios MENOS e MEIO, foi possível evidenciar a co-existência dessas formas na modalidade oral da língua, mostrando que há concorrência entre as formas variantes.

P-09- A FEIRA NO SERTÃO DO SERIDÓ POTIGUAR: por uma abordagem geográfica cultural
AUTOR E EXPOSITOR: Marcos Antônio Alves de Araújo (Geógrafo e Mestrando do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia/ UFRN)
RESUMO:
Incrustadas em boa parte dos espaços das cidades que compõem as cartografias urbanas do Seridó Potiguar, as feiras livres, representam, ainda, instituições, ditas, tradicionais onde são tramadas uma multiplicidade de relações culturais. Nesse sentido, ancorado nos baluartes teórico-metodológicos da Geografia Cultural e alicerçado nas inspirações discursivas de Rogério Haesbaert, Paulo César da Costa Gomes, Marcelo Lopes de Souza, Paul Claval e Michel Foucault, elegeu-se como objetivo deste trabalho, analisar os motivos que fazem com que os múltiplos territórios da feira livre da cidade de Caicó, enxertada nas terras sertanejas do Seridó Potiguar, sejam construídos e reconstruídos diante de um surgimento de modernos espaços de usos e consumos, problematizando as práticas culturais tecidas pelos sujeitos sociais nas malhas espaciais demarcadas, apropriadas e controladas por relações de poder.

P-10 - ALUNOS PESQUISADORES: histórias de vida e identidade
AUTORA: Joana Leopoldina de Melo Oliveira (UFRN)
ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria de Lourdes Patrini Charlon (UFRN)
RESUMO:
Trabalhar com relatos orais é uma forma privilegiada de se obter o máximo de informações de um indivíduo ou grupo social. A história de vida é um desses recursos da história oral, onde o narrador dá ao pesquisador informações que serão captadas além do indivíduo, e serão analisadas na coletividade em que está inserido. Esse estudo se inscreve no projeto de pesquisa “A escrita e seu duplo: campos múltiplos de observação e invenção”, tendo como objetivo discutir os conceitos, histórias e narrativas de vida, produtos orais de colaboração entre uma pessoa que fala de sua vida e uma outra que escuta e intervém de maneira mais ou menos ativa no discurso. Através do método da entrevista compreensiva, foram analisadas as entrevistas de alunos pesquisadores de graduação, iniciação científica e pós-graduação em ciências humanas da UFRN, que fazem parte do projeto.

P-11 - Jardim do Seridó/RN: uma leitura imagética do urbano.
AUTORA: Evaneide Maira de Mélo (Mestranda em Geografia, pelo Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia/ UFRN)
ORIENTADORA: Profª Drª Maria Helena Braga e Vaz da Costa (Coordenadora da base de pesquisa Artes Visuais , Cultura e Representação/ DEART/ UFRN)
RESUMO:
Empreendemos uma jornada pelos labirintos urbanos de Jardim do Seridó/RN, tomando como referencial empírico o acervo fotográfico de Zé Boinho, fotógrafo oficial da cidade no transcorrer dos anos de 1950 a 1980, com o objetivo de construir um painel sobre o cotidiano citadino na temporalidade em questão.Os procedimentos teórico-metodológicos da pesquisa corresponderam ao levantamento de referenciais sobre Represetanções, Geografia Cultural, Imagem e Cidade. Neste sentido, apontamos os trabalhos de Corrêa (2001), Claval(2001),Manguel(2001), Barthes(1984), Pesavento(1995) e Calvino (1990). Como também, desenvolvemos atividades de campo na cidade de Jardim do Seridó/RN para coletar o acervo fotográfico de Zé Boinho.

P-12 - O PERFIL DO ALUNO PESQUISADOR
AUTORA: Francisca Arinuza Dantas Sizenando (Letras/UFRN)
ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria de Lourdes Patrini Charlon (UFRN)
RESUMO:
Este trabalho é baseado no projeto de pesquisa a “Escrita e o seu duplo: campos múltiplos de observação e invenção”, que analisa os relatos de alunos-pesquisadores de graduação, iniciação científica e pós-graduação em Ciências Humanas da UFRN, na busca da valorização da oralidade e da identidade desses alunos pesquisadores, tendo a preocupação de resgatar com esse trabalho o indivíduo e seu papel social, nas relações homem e sociedade, assim como, conhecer as escolhas profissionais e pessoais destes indivíduos.

P-13-Tradição e modernidade na arte de contar histórias
Autora e Expositora: Danielly da Conceicao Lima Cavalcante (Letras/ UFRN)
Resumo:
O objetivo deste trabalho é mostrar a importância do conto oral e da prática social do contar e, discutir os motivos pelos quais essa prática vem resistindo, apesar dos anúncios de sua quase extinção. Essa questão motivou as pesquisadoras, Profª. Maria de Lourdes Patrini e Profª. Vera Lucia F. Pereira, a desenvolverem projetos de pesquisa. Os resultados obtidos pelas pesquisadoras estão nos livros “A renovação do conto” e “O artesão da memória”, respectivamente. Em seus estudos, as pesquisadoras privilegiam a transmissão e a recepção orais do conto, sendo que no primeiro a autora revisitará a prática tradicional dos contadores de histórias, mas seu estudo se concentrará na renovação da prática oral de contar e sua performance a partir de maio de 68 até 1998. O segundo livro foca, com um tom de nostalgia, a fala do contador, seus anseios e seus esforços em adaptar a sua arte aos apelos de uma modernidade aguda. A importância de tais trabalhos se encontra nos estudos realizados sobre a oralidade, escritura, memória e performance voltados para a prática do contador. Para a realização desses trabalhos as pesquisadoras entrevistaram, diretamente, os contadores de histórias, na França e no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A análise dos dados revela que, apesar das diferenças existentes, há certas equivalências como, por exemplo, a preocupação com a renovação da prática de contar e a sua transmissão, recepção.

P-14- A CIDADE EM FESTA: Nossa Senhora do Ó contando a sua história
Autor e Expositor: Flávio Rodrigo Freire Ferreira (Ciências Sociais/ UFRN)
Resumo:
A proposta do presente trabalho consiste em estudar a religiosidade e devoção de Nossa Senhora do Ó na cidade de Nísia Floresta (RN) e analisar como os moradores percebem a cidade. Com efeito, a festa de Nossa Senhora do Ó ocupa um lugar central no calendário festivo-religioso da cidade e, por esse motivo, procuro fazer uma leitura da lenda de fundação da cidade à luz do passado. Com pesquisa realizada antes e no período da festa, possibilitando a sua descrição etnográfica à luz das narrativas que figuram em torno da santa padroeira, observei ainda a relação existente entre as duas figuras importantes da cidade: Nísia Floresta e Nossa Senhora do Ó.

P-15- A poluição do ar no bairro do Alecrim
Autora e Expositora: Ana Beatriz Câmara Maciel (Aluna do Programa de educação tutorial/ Geografia/ UFRN)
Orientador: Ademir Araújo da Costa
Resumo:
Os problemas ambientais vêm aumentando atualmente nos centros urbanos das médias e grandes cidades, afetando de maneira grave a qualidade de vida da população. Isso se deve ao fato de que o processo de urbanização que ocorreu no Brasil foi de forma muito rápido, desordenado e não planejado, contribuindo assim para um aumento desses problemas. A cidade de Natal não foge a regra, com a sua acelerada urbanização trouxe consigo vários problemas ambientais, evidenciando-se em determinados bairros, como por exemplo, o bairro do Alecrim. É nesse sentido que o projeto de pesquisa em fase final de sua execução tem como principal objetivo estudar a poluição do referido bairro, localizado na cidade de Natal/RN, causado pelo comércio e pelos automóveis, e as conseqüências trazidas por essa problemática ambiental para a população do bairro, tendo como espaço temporal o período de 1990 até os dias atuais.

P-16- Ciclo do Algodão no município de Florânia no final do século XIX
Expositores: Andréa Oliveira de Azevedo e Genilson de Azevedo Farias
Autores: Andréa Oliveira de Azevedo, Genilson de Azevedo Farias, Daniel Bertrand e Luiz Dutra de Souza Neto (Departamento de Arqueologia/ MCC/ UFRN)
Resumo:
Na segunda metade do século XIX ocorreu um importante ciclo econômico no interior do Rio Grande do Norte, o chamado ciclo econômico do algodão. Este ciclo ocorreu no Rio Grande do Norte em dois períodos distintos, o primeiro na segunda metade do século XVIII e o segundo na segunda metade do século XIX. Os dois períodos ocorreram por causa da quebra do fornecimento de algodão norte-americano para o mercado europeu. Esta ruptura se deu por causa de conflitos ocorridos em território norte-americano. Este segundo período consolidou esta atividade econômica no Nordeste do Brasil. Como também alavancou a economia provincial com o estabelecimento de comerciantes estrangeiros que trabalhavam com os negócios de importação de produtos europeus e a exportação de matérias-primas locais.

P-17- Congos de Calçola: uma manifestação artística popular da vila de Ponta Negra
Autora e expositora: Maria da Conceição Lira de Paiva
Orientadora: Profª. DrªTeodora de Araújo Alves/ DEART
RESUMO:
A Vila de Ponta Negra tem muitos “encantos” e, sobretudo tem história, que deve ser preservada, pois nela estão presentes valores que hoje em dia se distanciam em decorrência da economia, da mundialização, da globalização, devoradoras da identidade cultural.O projeto de pesquisa A arte e a identidade de um povo, coordenado pela Profª Drª Teodora Araújo surge para ressaltar a cultura local da comunidade investigada com foco na arte produzida por seus moradores.Com o objetivo de conhecer e estudar as Manifestações artísticas populares: os encantos da Vila de Ponta Negra, ressaltando saberes advindos dos mestres e brincantes dos grupos folclóricos, bem como contribuir com a composição do acervo cultural da comunidade, relato a observação e descrição da linguagem cênica da dança dramática: congos de calçola.A metodologia utilizada para este trabalho de iniciação científica foi a da pesquisa-ação e observação participante como técnica de coleta de dados, além de entrevista com o mestre José Correia, e leituras relacionadas.A pesquisa tem um papel extremamente relevante na perspectiva de suscitar e reavivar, a comunidade investigada para a sua essência artística, valorizando e apresentando ao mundo as suas tradições populares, parte da nossa história.

P-18- CONTRIBUIÇÕES SOBRE SEMIÓTICA: aporte para uma análise discursiva através de Saussure e Peirce
Autores e Expositores: André Domingos da Silva
Genoveva Batista do Nascimento
RESUMO:
Aponta a semiótica como um estudo de toda e qualquer linguagem, pois, é através dela que temos, mesmo que inconscientemente a base para perceber e entender as coisas. A consciência é a premissa maior de todo um complexo de significações que a semiótica busca elucidar, a fim de explicar questões que muitas vezes por nós passa despercebida. Quem nunca tentou decifrar os desenhos de uma nuvem? Quem nunca quis saber o que se esconde por trás das palavras existentes nos discursos utilizados por oradores, juristas, pastores, padres, enfim, pessoas que tornam público as palavras, que verbalizam. Traz considerações sobre Ferdinand de Saussure e Charles Sanders Peirce como bases das discussões fluentes no assunto respectivamente, o primeiro enfoca uma visão diática do signo, atribui puramente suas teorias ao campo da lingüística. O segundo, por sua vez, atribui suas teorias, dentro de uma concepção triádica do signo a toda e qualquer coisa existente na natureza.

P-19 – Memórias de "Antes da Noite": a história do espetáculo teatral que virou presente para Câmara Cascudo
Autora e Expositora: Elisa Paiva de Almeida (Aluna do Curso de Comunicação Social – Radialismo, bolsista PPPg - PROPESQ / UFRN)
Orientadora: Maria da Conceição de Almeida
RESUMO:
O presente trabalho resgata, por meio de um documentário em vídeo a experiência do desenvolvimento do espetáculo teatral "Antes da Noite", feito em homenagem a Luis da Câmara Cascudo no ano de seu centenário. O processo de criação, encenação e montagem proporcionou aos seus participantes a produção de conhecimentos principalmente relacionados à prática teatral e à obra de Cascudo. Além de resgatar a memória dessa vivencia de extensão universitária, o trabalho é também um exercício da utilização da complexidade como fundamentação teórico-metodológica para a produção científica e videográfica.

P-20 – A Prática Pedagógica na Educação de Jovens e Adultos: um tesouro a descobrir.
Autoras e Expositoras: Marianne da Cruz Moura
Dominique Cristina Souza de Senna (Alunas do Curso de Pedagogia da DEPED/UFRN)
RESUMO:
O presente trabalho, desenvolvido como parte das exigências para conclusão da disciplina Prática de Ensino no 1° Grau no curso de Pedagogia/UFRN, relata a experiência de prática de ensino, desenvolvida no Centro de Estudos para Jovens e Adultos – CEJA, com turma de 1º ano da EJA. Os alunos de EJA são alunos muito especiais e com uma vontade de aprender muito grande, embora às oportunidades sejam pequenas. Cada aluno tem uma história, uma vivência diferente e muito a nos ensinar. São vidas já vividas e apesar das conquistas já alcançadas eles sentem falta de algo muito importante nessa trajetória, sentem falta da educação, do prazer de ler um aviso, de escrever uma carta, de ajudar um filho numa tarefa ou de, simplesmente, poder escrever seu próprio nome. Conforme a LDB, 1996, Art. 37, § 1º “é de direito dos alunos da EJA e dever do Estado uma boa educação para todos que tenham interesse e vontade de aprender”. Objetivamos desenvolver um trabalho diferente através da compreensão da apropriação da escrita e da linguagem escrita de forma consciente, permitindo a eles uma primeira iniciação as diversas funções da escrita através do trabalho com os textos, com o uso da matemática, através da resolução de problemas que os mesmos vivenciarão no dia a dia, e por meio da linguagem escrita e oral, envolvendo comparações, adições, subtrações e com quantidades e valores em dinheiro. A pesquisa do tipo qualitativa, envolveu um estudo bibliográfico, a coleta de dados através de entrevistas a educadora da sala onde foi realizada a prática e observações não-participativa. Em seguida, realizamos a prática com duração de um mês. Constatamos que, é possível através dessa proposta de trabalho “colher” resultados positivos na EJA e fazer com que os alunos aprendam de maneira real, significativa e de fácil acesso e entendimento.

P-21-Uma Arte de (sobre)Viver: A mendicância entre os Negros do Riacho
Autora e Expositora: Joelma Tito da Silva
Orientador: Prof. Ms.Joel Carlos de Souza Andrade
RESUMO:
Este trabalho, vinculado ao projeto de pesquisa “O RN como um Corpo Escrito”, analisa as práticas cotidianas e nomeações em torno de uma comunidade negra, que se estabeleceu na segunda metade do século XIX na zona rural do município de Currais Novos/RN. Denominados de Negros do Riacho, os componentes da comunidade utilizam a venda e fabrico de carvão, da cerâmica utilitária e a mendicância como estratégia de sobrevivência, mantendo contatos semanais com os habitantes da cidade. Entre essas práticas a mendicância se estabelece enquanto aquela crivada por discursos estereotipados, que incidem na produção do “outro ocioso”, porém, evidencia a invenção de táticas diárias estabelecidas pelo homem comum para driblar a carência material agenciando performaticamente gestos, lágrimas e palavras a partir de uma arte de sensibilizar, com o objetivo de conseguir aquilo que se deseja. Assim, problematizamos as adjetivações pejorativas acerca da prática da mendicância e a (re)significação desses discursos pelos Negros do Riacho a partir de uma ética da pobreza, visando produzir efeitos de comoção. Teórico/metodologicamente a pesquisa efetuo-se a partir das discussões sobre o cotidiano presentes em Michel de Certeau, da história oral e da pesquisa de campo participante. Construída a “paisagem de pesquisa”, verificamos que a mendicância institui práticas cotidianas, inventando formas de sobrevivência a partir da criatividade do homem comum.

P-22-EDUCAR PARA A MORAL E SOLIDARIEDADE
Autora e Expositora: Cláudia Leite Guedes
Orientador: Adir Luiz Ferreira /DEPED/UFRN
RESUMO:
A sociedade de hoje encontra-se mergulhada em uma crise de valores morais e sociais. Onde o homem vive em eternas “rinhas”, defendendo seus territórios, lutando por suas idéias, criando muralhas e querendo sempre vencer. Por isso que estudar a solidariedade e a moral apresenta-se como sendo uma prioridade para a formação de seres humanos que possuam “currículo digno”, ou seja, um currículo que não se detenha apenas a cursos e diplomas. Não queremos formar um homem, que viva para o egoísmo e individualismo. Buscamos construir um ser humano que saiba conviver e aprender com “as matas selvagens e os campos semeados” que compõem a vida. Neste sentido, o presente trabalho como sendo de caráter bibliográfico, busca a luz dos autores como Assmann (2000), Comte-Sponville (1999), Delors (2000), Freire (1996), Freitas (2003), Morin (2000), Nunes (2003), Puig (1998), Sequeiros (2000), Tognetta (2003) entre outros -, elucidar as idéias referentes à solidariedade e a moral na formação escolar. Entendendo que a solidariedade apresenta-se como uma teia que move atitudes, a moral é o senso que leva a mais viável conduta. São os valores que carregamos que dizem se estamos fazendo o certo ou o errado, se é justo ou injusto. A escola, local onde o ser humano desenvolve seu processo de lapidação, apresenta-se como sendo ideal para que as práticas pedagógicas possam construir seres mais humano, dignos, felizes e fundamentalmente solidários. No entanto, para isso precisamos instruir educadores em prática pedagógica solidária, participativa e atuante para a formação do mundo melhor.

P-23 - Por quem as palavras dobram: vozes latinas em inscrições dispersas na cidade de Natal-RN
Autores e Expositores: Maria Hozanete Alves de Lima (Professora/ DLET/ UFRN)
Nelson Falcão de Araújo Neto(Aluno/ UFRN/CCHLA/ Depto. de Letras)
RESUMO:
A história de um povo, seja ela de qualquer natureza, política, religiosa, social ou individual, encontra, na língua escrita, uma das formas particulares de permanecer viva. A escrita é, nesse sentido, o passo/rastro, memória de uma sociedade, “memória dos homens” (Georges, 2002). Na cidade de Natal, muitos registros escritos em praças públicas passam despercebidos pelos transeuntes, como sói acontecer. De certo modo, tais registros deixam inscrito o modo particular como os sujeitos, historicamente, significaram/ressignificaram o espaço vivenciado por eles e o discurso que lhe é constitutivo. Dessas inscrições, algumas em particular têm chamado nossa atenção: aquelas que se encontram escritas em Latim e se encontram dispersas em museus, igrejas, praças públicas e lápides. Nosso trabalho tem como objetivo, a partir da catalogação e tradução das inscrições, compreender o universo lingüístico-discursivo metaforizado nessas inscrições e o imaginário popular que gira em torno delas.

P-24- Nísia Floresta: desvio de um ideal patriarcal
Autores e Expositores: Danielle de Medeiros Sousa, Islândia Marisa Santos Bezerra.
RESUMO:
A sociedade brasileira, através da historiografia, foi mitificada como uma sociedade patriarcal, na qual durante muito tempo se representou a mulher como uma figura enclausurada no espaço privado da casa e dos filhos e submetida à forte força masculina na figura do pai, marido ou irmãos.
Apesar de, pelo menos no âmbito dos ideais esse tipo de representação não possa ser descartada, já que os papéis do sexo estavam legitimamente bem definidos em suas funções sociais houve desvios de conduta que se tornaram grandes exemplos de que muitas mulheres negavam – se a se encaixar no discurso patriarcal ao qual lhes impunham.
Nísia Floresta Brasileira Augusta é um desses grandes exemplos, já que foi uma das primeiras mulheres no Brasil a romper esses limites de espaço entre o público e o privado. Com suas idéias, que demorariam mais de um século para serem amplamente discutidas através do movimento feminista, ela se tornou para o seu tempo, nas palavras de Gilberto Freire “uma exceção escandalosa”.
Nosso trabalho tem o objetivo de mostrar que Nísia foi mais que uma exceção, foi uma voz que exprimiu a condição das mulheres que lhe eram contemporâneas e que por mais que fugissem, assim como ela, do esteriótipo de mulher submissa, eram eleitas a uma marginalidade difamatória.

P-25 - Projeto Resgate Documental de Fernando de Noronha
Autora e Expositora: Grazielle Rodrigues/ História/ UFPE.
Orientadora: Drª. Marcília Gama/ APEJE-PE.
RESUMO:
Este trabalho tem como proposta inventariar o acervo documental, existente no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (APEJE-PE), com o intuito de resgatar o cotidiano administrativo da ilha de Fernando de Noronha, no século XIX, trazendo a tona registros documentais ainda inéditos, de temas como o abastecimento, o comércio, as medidas de segurança e de higiene e relações comerciais estabelecidas entre a ilha e a cidade do Recife.
Com o levantamento documental da história administrativa da ilha, busca-se contextualizar os documentos no tempo e no espaço estudados, desvendando as múltiplas relações entre estes e o mundo em que o mesmo foi criado. Dentro deste acervo documental, trabalhar os conteúdos referentes às relações entre a ilha e Pernambuco, numa perspectiva de oferecer subsídios para a exploração dos temas citados.
Através de uma metodologia de análise documental, buscou-se inventariar a história administrativa da ilha nas leis, Decretos e Atos, Diários Oficiais do Estado e da União, identificar a representatividade destes registros enquanto documento histórico, identificar informações sobre grupo-pessoas-instituição conhecendo o significado e o contexto histórico-cultural representadas nestes documentos e o nível de conservação dos mesmos.
Assim, com o intercruzamento das informações, tentaremos elucidar o processo que gerou e a finalidade para o qual esse registro serve de testemunho na história.

P-26 – Tradição e modernidade na arte de contar histórias
Autora e Expositora: Danielly da Conceição Lima Cavalcante
Orientadora: Maria de Lourdes Patrini/ DLET
RESUMO:
O objetivo deste trabalho é mostrar a importância do conto oral e da prática social do contar e, discutir os motivos pelos quais essa prática vem resistindo, apesar dos anúncios de sua quase extinção. Essa questão motivou as pesquisadoras, Profª. Maria de Lourdes Patrini e Profª. Vera Lucia F. Pereira, a desenvolverem projetos de pesquisa. Os resultados obtidos pelas pesquisadoras estão nos livros “A renovação do conto” e “O artesão da memória”, respectivamente. Em seus estudos, as pesquisadoras privilegiam a transmissão e a recepção orais do conto, sendo que no primeiro a autora revisitará a prática tradicional dos contadores de histórias, mas seu estudo se concentrará na renovação da prática oral de contar e sua performance a partir de maio de 68 até 1998. O segundo livro foca, com um tom de nostalgia, a fala do contador, seus anseios e seus esforços em adaptar a sua arte aos apelos de uma modernidade aguda. A importância de tais trabalhos se encontra nos estudos realizados sobre a oralidade, escritura, memória e performance voltados para a prática do contador. Para a realização desses trabalhos as pesquisadoras entrevistaram, diretamente, os contadores de histórias, na França e no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A análise dos dados revela que, apesar das diferenças existentes, há certas equivalências como, por exemplo, a preocupação com a renovação da prática de contar e a sua transmissão, recepção.

P27- As mulheres do Sertão Colonial e as Representações da Morte
Autora e Expositora: Marcela Martins de Lima - História/ UFRN
RESUMO:
O trabalho sobre As mulheres do sertão colonial e as representações da morte, focaliza o papel desempenhado pelas mulheres nos rituais fúnebres, dentro da documentação que se constitui a fonte básica da pesquisa desenvolvida: inventários disponíveis no 1º Cartório do município de Currais Novos, no Rio Grande do Norte. Através deles analisaremos o processo de colonização do Sertão do Seridó e a conseqüente introdução do catolicismo neste espaço, que se tornará visível pelas representações da morte e pelos rituais fúnebres executados cotidianamente pelas mulheres, resultando numa extrema convivência entre os vivos e os mortos e na construção de uma cultura funerária que reforçará sobremaneira os vínculos entre a Igreja e a sociedade.

NOITE FOLCLÓRICA



"A Vila de Ponta Negra tem muitos “encantos” e, sobretudo, tem história, que deve ser preservada."
Maria da Conceição Lira de Paiva

Alexandro Gurgel

Congos de Calçola de Ponta Negra

XII Congresso Brasileiro de Folclore apresentou folguedos na praia da Redinha

Alexandro Gurgel
De Natal, Especial para O Mossoroense

Durante a semana passada Natal foi a capital nacional do Folclore, sede do XII Congresso Brasileiro de Folclore. A riqueza cultural popular que possui o Estado foi um dos motivos que levou a Comissão Nacional do Folclore a escolher a cidade para sediar essa edição do evento, onde os congressistas participaram de debates, conferências, exposições, mesas-redondas, oficinas, lançamentos de livros e apresentações culturais.

O congresso foi realizado no Cefet e na Fundação José Augusto, tendo como tema principal “Folclore e Turismo: cenário de inclusão social”. Uma vasta programação cultural ocorreu paralela ao evento, resgatando o espírito folclórico em vários pontos da Cidade dos Reis Magos.

Para um pequeno ajuntamento de pessoas da comunidade de Santos Reis e alguns convidados, o Boi de Reis de Manoel Marinheiro abriu o séqüito folclórico com uma apresentação no adro da Igreja de Santos Reis. Na ocasião, foi lançado o livro “Folia de Reis”, do folclorista carioca Affonso Furtado.

Na penúltima noite de agosto, galantes, foliões e brincantes transformaram a praia da Redinha num grande palco a céu aberto para celebrar a história de Cornélio Campina. Sem ninguém esperar, sem nada a ser dito de antemão, Carlinhos Bem começa cantando “Linda Baby”, de Pedrinho Mendes, no átrio da capelinha dos pescadores.

Com o palco montado no Largo João Alfredo, tendo como cenário o Mercado Público, o Redinha Clube, a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes e o rio Potengi, vários grupos folclóricos apresentaram seus autos, repleto de cores, danças, cantigas e magia, numa performance colorida para o encantamento de poucos presentes.

De acordo com Eduardo Alexandre, coordenador do Centro de Documentação Cultural (Cedoc), responsável pelas apresentações do cortejo folclórico, o objetivo é a documentação e a apresentação pública de autos populares que vêm dos tempos coloniais, trazidos pelos colonizadores europeus ibéricos e escravos negros da costa oeste africana, que aqui ganharam influência da cultura dos índios de Pindorama.

O Boi de Reis de Felipe Camarão mostrou que a tradição do mestre Manoel Marinheiro continua viva, cultivada entre os mais jovens dançarinos. Pastoril de Tibau do Sul, Congos de Caçola de Ponta Negra, Grupo Cavalo Marinho de Bayeux (PB), Caboclos de Major Sales, Coco Maracajá e o grupo Araruna fizeram uma homenagem ao mestre Cornélio Campina pelos 50 anos dedicados à vida das danças antigas e semi-desaparecidas.

“Esses cortejos foram pensados não para se caracterizarem como grande espetáculo, mas para proporcionarem aos grupos condições espaçosas e propícias às apresentações. Eles evoluíram em espaços de 40 minutos entre um e outro, mostraram a beleza particular de cada um deles, em enredos, indumentárias e cantos”, enfatizou Eduardo Alexandre, ressaltando que tudo foi devidamente documentado em fotos e vídeos.

A noite folclórica na Redinha encerrou com Fernando Tovar cantando a Serenata do Pescador, mais conhecida por Praieira, considerada por muitos potiguares como hino de Natal. Tovar também interpretou modinhas do começo do século passado, fechando aquele momento mágico, numa noite de epifania folclórica.

QUEM SOU EU




Foi-se espalhando a notícia
Mão de Pau é valentão

Fabião das Queimadas

Hugo Macedo
Hugo Macedo

Romance do boi da Mão de Pau
Fabião das Queimadas
Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha (1848-1928) - Rio Grande do Norte


Vou puxar pelo juízo
Para saber-se quem sou
Prumode saber-se dum caso
Tal qual ele se passou
Que é o boi liso vermelho
O Mão de Pau corredor

Desde em cima, no sertão
Até dentro da capitá
Do norte até o sul
Do mundo todo em gerá
Em adjunto de gente
Só se fala em Mão de Pau

Pois sendo eu um boi manso
Logrei a fama de brabo
Dava alguma corridinha
Por me ver aperriado
Com chocalho no pescoço
E além disto algemado...

Foi-se espalhando a notícia
Mão de Pau é valentão
tendo eu enchocalhado
Com as algemas nas mão
Mas nada posso dizer
Que preso não tem razão

Sei que não tenho razão
Mas sempre quero falá
Porque alé d'eu estar preso
Querem me assassinar...
Vossa mercês não ignorem
A defesa é naturá

Veio cavalos de fama
Pra correr ao Mão de Pau
Todos ficaram comido
De espora e bacalhau...
Desde eu bezerro novo
Que tenho meu gênio mau

Na serra de Joana Gomes
Fui eu nascido e criado
Vi-me morrer lá pro Salgado
Daí em vante os vaqueiro
Me trouveram atropelado...

Me traquejaram na sombra
Traquejavam na comida
Me traquejavam nos campo
Traquejavam na bebida
Só Deus terá dó de mim
Triste é a minha vida

Tudo quanto foi vaqueiro
Tudo me aperriou
Abaido de Deus eu tinha
Fabião a meu favor
Meu nego, chicota os bicho
Aqueles pabuladô

Pegaram a me aperiar
Fazendo brabo estrupiço
Fabião na casa dele
Esmiuçando por isso
Mode no fim da batalha
Pude fazê o serviço

Tando eu numa maiada
Numa hora d'amei-dia
Que quando me vi chegá
Três vaqueiro de enxurria
Onde seu José Joaquim
Este me vinha na guia

Chegou-me ali de repente
O cavalo Ouro Preto
E num instante pegou-me
Num lugá até estreito
Se os outro tiveram fama
Deles não vi proveito

Ali fui enchocalhado
Com as algemas na mão
Butado por Chico Luca
E o Raimundo Girão
E o Joaquim Siliveste
Mandado por meu patrão

Aí eu me levantei
Saí até choteando
Porque eu tava peiado
Eles ficaram mangando
Quando foi daí a pouco
Andava tudo aboiando...

Me caçaram toda a tarde
E não me puderam achar
Quando foi ao pôr-do-sol
Pegaram a se consultar
Na chegada de casa
Que história iam contar

Quando foi no outro dia
Se ajuntaram muita gente
— Só pra dar desprezo ao dono
Vamos beber aguardente
Pegaram a se consultar
Uns atrás, outro agüente

Procurei meu pasto veio
A serra de Joana Gome
Não venho mais no Salgado
Nem que eu morra de fome
Pru que lá aperriou-me
Tudo o que foi de home

Prefiro morrer de sede
Não venho mais no Salgado
No tempo que tive lá
Vivi muito aperriado
Eu não era criminoso
Porém saí algemado

Me caçaram muito tempo
Ficaram desenganado
E eu agora de-meu
Lá na serra descansado
Acabo de muito tempo
Vi-me muito agoniado

Quando foi com quatro mês
Um droga dum caçadô
Andando lá pulos matos
Lá na serra me avistou
Correu depressa pra casa
Dando parte a meu sinhô

Foi dizê a meu sinhô
— Eu vi Mão de Pau na serra
Daí em diante os vaqueiro
Pegaro a mi fazê guerra
Eu não sei que hei de fazê
Para vivê nesta terra

Veio logo o Vasconcelos
No cavalo Zabelinha
Veio disposto a pegar-me
Pra ver a fama qu'eu tinha
Mas não deu pra eu buli
Na panela das meizinha

Sei que tô enchocalhado
Com as argema na mão
Mas esses cavalo mago
Enfio dez num cordão
Mato cem duma carreira
Deixo estirado no chão

Quando foi no outro dia
Veio Antônio Serafim
Meu sinhô Chico Rodrigue
Isto tudo contra mim
Vinha mais muito vaqueiro
Só pro mode dá-me fim

Também vinha nesse dia
Sinhô Raimundo Xexéu
Este passava por mim
Nem me tirava o chapéu
Estava correndo à toa
Deixei-o indo aos boléus

Foram pro mato dizendo
O Mão de Pau vai a peia
Se ocuparo neste dia
Só em comê mé-de-abeia
Chegaro em casa de tarde
Vinham de barriga cheia

Neste dia lá no mato
Ao tirá duma "amarela"
Ajuntaram-se eles todo
Quase que brigam mor-dela
Ficaram todos breados
Oios, pestana e capela

Quem vinhé a mim percure
Um cavalo com sustança
Ind'eu correndo oito dia
As canela não me cansa
Só temo a cavalo gordo
E vaqueiro de fiança

Eu temia ao Cubiçado
De Antônio Serafim
Pra minha felicidade
Este morreu, levou fim
Fiquei temendo o Castanho
Do sinhô José Joaquim

Mas peço ao José Joaquim
Se ele vier no Castanho
Vigi não faça remô
Qu'eu pra corrê não me acanho
Nem quero atrás de mim
De fora vaqueiro estranho

Logo obraram muito mal
Em correr pro Trairi
Buscar vaqueiro de fora
Pra comigo divirti
Tendo eu mais arreceio
Dos cabras do Potengi

Veio Antônio Rodrigues
Veio Antônio Serafim
Miguel e Gino Viana
Tudo isto contra mim
Ajuntou-se a tropa toda
Na casa do José Joaquim

Meu sinhô Chico Rodrigues
É quem mais me aperriava
Além de vir muita gente
Inda mais gente ajuntava
Vinha em cavalos bons
Só pra vê se me pegava

Vinha dois cavalos de fama
Gato Preto e o Macaco
E os donos em cima deles
Papulando no meu resto
Tive pena não nos vê
Numa ponta de carrasco

Ao sinhô Francisco Dias
Vaqueiro do coroné
Jurou-me muito pega-me
No seu cavalo Baé
Porém que temia a morte
S'alembrava da muié

Vaqueiro do Potengi
De lá inda veio um
Um bicho escavacadô
Chamado José Pinun
Vinha pra me comê vivo
Porém vortô em jijum

Veio até do Olho d'Água
Um tal Antônio Mateu
Num cavalo bom que tinha
Também pra corrê a eu
Cuide de sua famia
Vá se recomendá a Deus

Veio até sinhô Sabino
Lá da Maiada Redonda
É bicho que fala grosso
Quando grita, a serra estronda
Conheça que o Mão de Pau
Com careta não se assombra

Dois fio de Januaro
Bernardo e Maximiano
Correram atrás de mim
Mas tirei-os do engano
Veja lá que Mão de Pau
Pra corrê é boi tirano

Bernardo por sê mais moço
Era mais impertinente
Foi quem mais me perseguiu
Mas enganei-o sempre
Quem vier ao Mão de Pau
Se não morrer, cai doente

Cabra que vier a mim
Traga a vida na garupa
Se não eu faço com ele
O que fiz com Chico Luca
Enquanto ele fô vivo
Nunca mais a boi insulta

Sinhô Antônio Rodrigue
Mas seu Gino Viana
Vocês tão em terra aleia
Apois vigie como anda
Se não souberam dançá
Não se metessem no samba

Vaqueiro do Trairi
Diz. Aqui não dá recado
Se ele dé argum dia santo
Todos ele são tirado
Deix'isso pr'Antonho Ansermo
Que este corre aprumado

Quando vi Antonho Anselmo
No cavalo Maravia
Fui tratando de corrê
Mas sabendo que morria
Saiu de casa disposto
Se despidiu da famia

Vou embora desta terra
Pru que conheci vaqueiro
E vou de muda pros Brejo
Mode dá carne aos brejeiro
Do meu dono bem contente
Que embolsou bom dinheiro

Adeus, lagoa dos Veio
E lagoa do Jucá
E serra da Joana Gome
E riacho do Juá
Adeus, até outro dia
Nunca mais virei por cá

Adeus, cacimba do Salgado
E poço do Caldeirão
Adeus, lagoa da Peda
E serra do Boqueirão
Diga adeus que vai embora
O boi d'argema na mão

Já morreu, já se acabou
Está fechada a questão
Foi s'embora desta terra
O dito boi valentão
Pra corrê só Mão de Pau
Pra verso só Fabião!

(Em Cascudo, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores. sl, Ediouro, sd, p.89-93)

terça-feira, setembro 05, 2006

PROJETO FORA DE PRAZO



"Quem foi à Ribeira, perdeu a cadeira."
Dito popular natalense

Hugo Macedo
Congresso do Folclore foi sucesso, mas faltou apoio
05/09/2006 - Tribuna do Norte

A falta de apoio e incentivo a cultura popular nacional foi evidenciada durante o 12º Congresso Brasileiro de Folclore, realizado semana passada em Natal. Embora tenha sido importante para marcar o esforço da comissão local que bancou a vinda do evento para o berço do professor Luís da Câmara Cascudo, a falta de empenho de alguns setores chamou a atenção.

Num balanço do Congresso feito à pedido da TRIBUNA DO NORTE pelo pesquisador potiguar Deífilo Gurgel e o presidente da comissão local de folclore Severino Vicente, sobraram críticas aos patrocinadores e aos representantes do turismo no Rio Grande do Norte.

De turismo, só o tema

De acordo com Vicente, no evento cujo tema era “Folclore e turismo: cenário de inclusão social”, nenhum dos secretários ou representantes da pasta de turismo municipal e estadual foram vistos no CEFET, local do congresso. “Se eles não quiseram participar, a gente apenas lamenta. Tivemos discussões importantes sobre a viabilidade do turismo sustentado ligado à cultura. Isso nunca havia sido feito no RN. Se falta interesse por parte deles, temos a sensação de dever cumprido”, disse.

A falta de verba foi outro ponto negativo no Congresso. As passagens aéreas só foram liberadas para os palestrantes de outros estados participarem do evento, no terceiro dia. Alguns, inclusive, desistiram de vir. “A abertura foi na terça, mas só tivemos as passagens na quinta-feira. O governo do Estado cedeu 40 (passagens) porque de última hora alguns patrocinadores desistiram de participar. O congresso estava orçado em R$ 470 mil, mas na hora contamos com pouco mais de R$ 200 mil. O Ministério da Cultura ficou de entrar com R$ 300 mil, mas não deu um centavo porque disse que demoramos a entrar com o projeto. Mesmo assim, as análises sobre o folclore foram muito proveitosas. Mais de 500 pessoas se inscreveram nos debates”, contou o presidente da comissão.

O pesquisador Deífilo Gurgel, que chegou a fazer parte da comissão, mas renunciou ao cargo, disse que temeu pela realização do evento. Ele afirmou, inclusive, que pediu o adiamento do evento. “Fiquei louco com aquilo. Não saiu dinheiro nenhum e naquela altura não dispúnhamos de muito tempo para correr atrás. Falei para adiarmos, mas quiseram fazer assim mesmo. Ainda assim, acho que ficou 70% do que estávamos imaginando. Vi palestras muito boas, como a do professor Oswaldo Trigueiro, que falou, de forma lúcida, sobre a batalha travada pela mídia contra a cultura popular.

A equipe de reportagem entrou em contato com a secretaria de incentivo e fomento à cultura do Ministério da Cultura para saber os motivos da falta de apoio. A assessora Raquel Alves confirmou que o projeto foi entregue fora do prazo e, por isso, nem constava no sistema. “O nome do projeto nem aparece no sistema. Não posso te falar se a gente sabia que esse congresso ia ser realizado porque chegam vários projetos ao MinC”, disse.

segunda-feira, setembro 04, 2006

ORIGENS CELTAS



"Aquilo que tentei fazer, junto com outras pessoas, foi alertar os meios de comunicação social e as autoridades para o valor dessas tradições, do seu significado, da riqueza que elas continham e contêm, e do risco que estavam correndo de se perderem se não houvesse alguém, que de alguma forma, apoiasse a sua realização."
Antônio Tiza

Joana Lima/DN
Entrevista
Antônio Pinelo Tiza
O Poti, 03.08.06

Diversos estudiosos da cultura popular brasileira estiveram em Natal na semana passada, participando do 12º Congresso Brasileiro de Folclore. Entre eles, o português Antônio Pinelo Tiza, professor de história da Universidade de Bragança, cidade onde também reside. Há 15 anos, ele se debruça sobre as tradições do Norte e Nordeste de Portugal, especialmente da região de Tras-dos Montes. Atendendo a um convite do evento, o professor, que se considera um "estudioso amador" do assunto, esteve em Natal para discorrer sobre a influência que tais tradições lusitanas exercem no folclore do Nordeste brasileiro. Em entrevista ao Diário de Natal, ele falou sobre a origem dessas tradições.


“Portugal influenciou o Nordeste”


Diário de Natal - É muito forte a influência lusitana no folclore nordestino?


Antônio Pinelo Tiza - Eu penso que sim. A conclusão a que eu cheguei é que de fato a grande maioria das tradições nordestinas celebradas no ciclo das 12 noites, que em Portugal chamamos de ciclo dos 12 dias, período que compreende de 25 de dezembro a 6 de janeiro, sofre uma forte influência lusitana. Escolhi este período por, na minha opinião, ser o mais rico em celebrações e ter uma simbologia muito profunda, tanto aqui no Nordeste quanto lá em Portugal. Este também é o período de maior influência de Portugal no Nordeste brasileiro.

Quais são essas influências tão fortes?


São influências nos ritos profanos e religiosos, na música, na dança, nas vestes, na indumentária, nas máscaras, nas figuras. O simples fato de existir máscara num ritual de partida parece não fazer sentido que apareça um mascarado. Por exemplo, na Folia de Reis aparece um mascarado. Se perguntarmos porque aparece aquele palhaço mascarado, só iremos compreender se formos à origem à raiz. Efetivamente, um mascarado lá no Nordeste português é uma figura fundamental que aparece em todos estes rituais.

Então podemos dizer que a figura do mascarado é de fundamental importância para comprovar a influência lusitana em nossa cultura popular?


Sim. E essa influência é sempre maior no Nordeste brasileiro. Essas tradições começaram a ser trazidas já no início da colonização.

As músicas cantadas nos rituais no Nordeste brasileiro são as mesmas dos ritos lusitanos?

Mais ou menos. A letra difere sempre, mesmo lá. De uma terra para outra, já há diferença, até porque é uma tradição oral que vai evoluindo de forma diferente. É normal que aqui também tenha evoluído de uma forma bastante diferente.

Qual a origem de seu interesse pelo estudo do folclore, já que o senhor afirma não ter nenhuma relação com a sua formação?


Esta tendência está relacionada com o fato de ser oriundo de uma região muito rica em tradições neste período do ano, nesse tal ciclo das 12 noites. É Tras-dos-Montes que fica no Nordeste de Portugal. O que verifiquei é que havia algumas dessas tradições que corriam o risco de se perderem. Aquilo que tentei fazer, junto com outras pessoas, foi alertar os meios de comunicação social e as autoridades para o valor dessas tradições, do seu significado, da riqueza que elas continham e contêm, e do risco que estavam correndo de se perderem se não houvesse alguém, que de alguma forma, apoiasse a sua realização.

De fato melhorou, ocorreram iniciativas para resgatar essas tradições portuguesas?


Melhorou. Posso exemplificar com a Festa dos Rapazes, que é uma dessas festas que acontecem nesse período, em 25 e 26 de dezembro. Há 15 anos, numa dessas festas que eu visitei, apareciam sete, oito, dez mascarados. No ano passado, voltei lá e o número quintuplicou, seriam cerca de 100.

O que de concreto foi feito para salvar essas tradições?

Foi dado o alerta através de textos e reportagens, nos jornais, televisões e rádios. As prefeituras ficaram em alerta para esses rituais e festividades e começaram a apoiar a realização, incentivando, oferecendo meios financeiros, fazendo os boletins (revista na qual é publicada as atividades da prefeitura) e chamando atenção para isso, além de apoiar a edição de livros sobre o assunto.

Qual seria a origem dessas tradições lusitanas?


A origem é interessante também. Pelo que verifiquei, eu e outros estudiosos, esses rituais não têm nada a ver com essas celebrações cristãs do Natal ou dos Reis. Isto é, não faz sentido que apareça uma figura diabólica, que é o tal mascarado que popularmente é o diabo, a celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Na verdade, é que ele aparece e, portanto, se aparece, temos que buscar a sua origem em outras festividades anteriores ao Cristianismo. São ritos muito mais antigos que o próprio Cristianismo, ou seja, temos que buscar as tradições dos povos celtas que ocuparam a Península Ibérica, notadamente aquela região onde tiveram uma presença mais forte. E, depois, mais tarde, nos romanos.

Então podemos dizer que o nosso folclore sofre influência de tradições originadas antes do cristianismo?

Isso mesmo, são de origem romana e celta. Por outro lado, a Igreja Cristã tentou acabar com essas festas pagãs e conseguiu acabar com elas em vários sítios. Para a Igreja, não fazia sentido existir uma festa ao deus Saturno ou ao deus Baco no dia do nascimento de Cristo. Tinha que acabar com elas e a única forma que ela teve de acabar com essas festas pagãs foi subistitui-las por outras cristãs. Ou seja, substituiu a festa do deus Sol por outra festa que era o nascimento de Cristo, sendo que o novo sol já não é sol estrela, mas é o sol Cristo.

Como se manteve então tais tradições em Tras-dos-Montes?

Apenas nessa pequena região do Nordeste português, e do outro lado da fronteira na parte espanhola, numa época em que não haviam fronteiras, esta região era a mesma. A Península Ibérica era uma só. No tempo dos romanos, tudo era Império Romano, digamos. Não haviam ali limites que separassem e, portanto, de um lado e do outro da fronteira as tradições eram as mesmas. Ainda hoje são as mesmas, com pequenas diferenciações. E, portanto, devido talvez a um certo isolamento que essa região sempre teve em relação ao poder central, ao desenvolvimento e a dificuldade que se tinha em chegar lá, como o próprio nome diz, Tras-dos-Montes é uma região montanhosa. Todos esses fatores contribuíram para permitir que essas tradições se mantivessem sem a influência da Igreja. Sem que a Igreja se fizesse sentir de uma maneira tão acentuada.

Diante desse convite para participar do Congresso, irá aumentar seu interesse pelo folclore do Nordeste brasileiro?

Sim, aliás já estou adquirindo obras que vão me permitir aprofundar isso.

Voltando aos mascarados, eles exercem influência sobre o nosso Carnaval?

Todo Carnaval tem origem européia. O Carnaval foi introduzido no Brasil, e em outras partes do mundo, pelos europeus, não só pelos portugueses. O Carnaval era um celebração profana dos tempos dos romanos. Era uma celebração ao deus dos rebanhos, Pen, e que acontecia justamente em meados de fevereiro. Os sacerdotes deste deus se despiam, cobriam apenas as partes genitais com uma pele de cabra ou ovelha e percorriam as ruas tentando castigar as mulheres. Julgando que com estas chicotadas estavam fecundando. O que acontece, mais tarde na Idade Média, é que essa mesma festa foi aproveitada pela Igreja. Que disse: o Carnaval é época de exagero na comida e na bebida, mas no dia seguinte começa o grande período de jejum que é a quaresma, a quarta-feira de cinzas.

domingo, setembro 03, 2006

AINDA A REDINHA



Jesus a mim quis fazê
Neste caso que se deu:
Eu perdê a minha vista
Meus olhos escureceu
Mas estou cantando as virtudes
Que a natureza me deu
Cego Aderaldo

Fotos: Hugo Macedo

Mestre Cornélio Campina, o senhor Araruna





























sexta-feira, setembro 01, 2006

NOITE DE FOLCLORE NA REDINHA



"Rezadeira
Ó meu pai, adeus
Ó meu pai, adeus
Qui eu vô m'imbora

Sentinelas
M'incomende a Deus
E à Nossa Sinhora
M'incomende a Deus
E à Nossa Sinhora"


Excelência da Despedida
Versos colhidos por César Guerra-Peixe, em fevereiro de 1952, em Caruaru, Pernambuco
http://www.jangadabrasil.com.br/realejo/exibirtitulo.asp?id=66

O Blog Folclore do Brasil continuará a ser atualizado, sempre que nos chegue material para tal. E-mail do editor:
eduardoaag@gmail.com

Fotos: Alexandro Gurgel




Esta é uma terra
de um deus mar
Versos de Pedro Mendes abriram a noite, em apresentação de Carlos Bem


O mestre Cornélio Campina encantou com a leveza de sua dança - Araruna, preservando tradições semi-desaparecidas


A capelinha dos pescadores da Redinha foi o cenário da festa


O Cavalo-marinho para-folclórico de Bayeux trouxe uma coreografia bonita e uma Catirina Chula por demais, que subtrai e trai o folclore verdadeiro





Os Congos de Calçola deram show no silêncio da noite mais bela.
Toda a festa está registrada em vídeo





Apesar de tangidos pelas cores da Copa, os Caboclos de Major Sales mostraram força na música e batida de pés. Marcação forte mesmo. Contagiante.



Khrystal trouxe o coco para a Festa



Fernando Tovar encerrou a noite com a Serenata do Pescador, mais conhecida por Praieira, considerada popularmente como hino de Natal, e interpretou modinhas do começo do século passado. Belo momento.

Programação de hoje - Encerramento

Dia 1º de setembro – sexta-feira
08 às 12 horas – Reuniões dos grupos de trabalho

08 às 12 horas – Oficinas
14:30 h – Mesa-redonda 09 – Ocorrências lúdico-religiosas no Folclore. Expositores: Ulisses Passarelli (Comissão Mineira de Folclore). Roberto Benjamin (Comissão Pernambucana de Folclore). Osvaldo Meira Trigueiro (Universidade Federal da Paraíba)
14:30 h – Mesa-redonda 10 – Promoção oficial: folclore, parafolclore e turismo. Participantes: Toninho Macedo (Comissão Paulista de Folclore). Teresinha Heimann (Fundação Cultural de Blumenau). Maria do Socorro Araújo (Comissão Maranhense de Folclore)
15:30 h – Mesa-redonda 11 – Memórias e reflexões sobre a literatura popular. Participantes: Neide Medeiros Santos (Comissão Paraibana de Folclore). Manuel Fonseca dos Santos (Universidade de Poitiers). John Rex Gadzekpo Amuzu (Universidade de Gana).
15:30 h – Mesa-redonda 12 – Patrimônio imaterial e turismo. Expositores: Julie Cavignac (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Lélia Pereira da Silva Nunes (Comissão Catarinense de Folclore). Júlio Gomes (Comissão Espírito-Santense de Folclore).
17:00 h – Reunião plenária da Comissão Nacional do Folclore
18:00 h – Encerramento do Congresso