terça-feira, setembro 05, 2006

PROJETO FORA DE PRAZO



"Quem foi à Ribeira, perdeu a cadeira."
Dito popular natalense

Hugo Macedo
Congresso do Folclore foi sucesso, mas faltou apoio
05/09/2006 - Tribuna do Norte

A falta de apoio e incentivo a cultura popular nacional foi evidenciada durante o 12º Congresso Brasileiro de Folclore, realizado semana passada em Natal. Embora tenha sido importante para marcar o esforço da comissão local que bancou a vinda do evento para o berço do professor Luís da Câmara Cascudo, a falta de empenho de alguns setores chamou a atenção.

Num balanço do Congresso feito à pedido da TRIBUNA DO NORTE pelo pesquisador potiguar Deífilo Gurgel e o presidente da comissão local de folclore Severino Vicente, sobraram críticas aos patrocinadores e aos representantes do turismo no Rio Grande do Norte.

De turismo, só o tema

De acordo com Vicente, no evento cujo tema era “Folclore e turismo: cenário de inclusão social”, nenhum dos secretários ou representantes da pasta de turismo municipal e estadual foram vistos no CEFET, local do congresso. “Se eles não quiseram participar, a gente apenas lamenta. Tivemos discussões importantes sobre a viabilidade do turismo sustentado ligado à cultura. Isso nunca havia sido feito no RN. Se falta interesse por parte deles, temos a sensação de dever cumprido”, disse.

A falta de verba foi outro ponto negativo no Congresso. As passagens aéreas só foram liberadas para os palestrantes de outros estados participarem do evento, no terceiro dia. Alguns, inclusive, desistiram de vir. “A abertura foi na terça, mas só tivemos as passagens na quinta-feira. O governo do Estado cedeu 40 (passagens) porque de última hora alguns patrocinadores desistiram de participar. O congresso estava orçado em R$ 470 mil, mas na hora contamos com pouco mais de R$ 200 mil. O Ministério da Cultura ficou de entrar com R$ 300 mil, mas não deu um centavo porque disse que demoramos a entrar com o projeto. Mesmo assim, as análises sobre o folclore foram muito proveitosas. Mais de 500 pessoas se inscreveram nos debates”, contou o presidente da comissão.

O pesquisador Deífilo Gurgel, que chegou a fazer parte da comissão, mas renunciou ao cargo, disse que temeu pela realização do evento. Ele afirmou, inclusive, que pediu o adiamento do evento. “Fiquei louco com aquilo. Não saiu dinheiro nenhum e naquela altura não dispúnhamos de muito tempo para correr atrás. Falei para adiarmos, mas quiseram fazer assim mesmo. Ainda assim, acho que ficou 70% do que estávamos imaginando. Vi palestras muito boas, como a do professor Oswaldo Trigueiro, que falou, de forma lúcida, sobre a batalha travada pela mídia contra a cultura popular.

A equipe de reportagem entrou em contato com a secretaria de incentivo e fomento à cultura do Ministério da Cultura para saber os motivos da falta de apoio. A assessora Raquel Alves confirmou que o projeto foi entregue fora do prazo e, por isso, nem constava no sistema. “O nome do projeto nem aparece no sistema. Não posso te falar se a gente sabia que esse congresso ia ser realizado porque chegam vários projetos ao MinC”, disse.